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O "hype" da IA e a nova Era de Ouro da Ciência

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No mês passado, vivi uma daquelas experiências que parecem banais à primeira vista, mas que deixam um sinal amarelo aceso no fundo da consciência: um estudante de jornalismo solicitou uma entrevista para falar sobre Sustentabilidade 4.0 (tema ao qual dedico anos de pesquisa, escrita e docência) e prontamente aceitei, como sempre faço quando jovens comunicadores se aproximam com genuína curiosidade. Contudo, ao ouvir suas primeiras perguntas, senti algo que raramente experimento: constrangimento.


Claramente as perguntas não eram suas. Eram da inteligência artificial.

E como seu disso? Simples! As perguntas estavam completamente incompatíveis, reduzindo Sustentabilidade 4.0 a uma simples derivação da Indústria 4.0, o que inclusive é um erro conceitual grave, que demonstra desconhecimento da proposta epistemológica, metodológica e filosófica que venho construindo desde 2015. 


Naquele instante, constatei que está emergindo um fenômeno perigoso: profissionais de jornalismo orientados por uma IA que lhes entrega perguntas prontas, mastigadas, superficiais e, muitas vezes, equivocada. 


Agora imagine... se antes recorríamos ao jornalismo para escapar da desinformação, hoje começamos a nos perguntar: e quando o próprio jornalista se torna vítima da mesma fonte que deveria combater?

Aqui está um paradoxo: nunca produzimos tanto conteúdo, e nunca produzimos tão pouco conhecimento.

O uso indiscriminado de IAs generativas, sem supervisão humana qualificada, está inundando o mundo com textos estéreis, análises sem profundidade, livros escritos em minutos, projetos sem fundamentação, teorias inventadas e “autoridades instantâneas”. Enquanto a informação se multiplica, a credibilidade evapora. Ao mesmo tempo a aparência de saber substitui o esforço da investigação, a velocidade suplanta o rigor e a estética da resposta imediata ocupa o lugar da reflexão crítica.

Mas, como sou uma eterna otimista, enxergo com clareza cada vez maior, um movimento contrário: a revalorização da ciência como único porto seguro em meio ao caos informacional.

As universidades, frequentemente relegadas ao ostracismo pelas novas gerações, surgirão novamente como faróis de confiabilidade, não apenas pela tradição, mas pela necessidade. Pesquisadores, cientistas e pensadores serão cada vez mais demandados, justamente porque o mundo está repleto de conteúdos produzidos sem lastro, sem método, sem epistemologia, sem ética e sem contexto.


E é aqui que emergem as alternativas que venho defendendo sob a Sustentabilidade 4.0: ciência sólida, sabedoria ancestral e inteligência da natureza, sobretudo numa era de hiperestimulação artificial onde a humanidade precisará mais do que nunca de fundamentos profundos, complexos e regenerativos. 


Mas vejam, isso não é uma crítica banal à IA; é, sim, um diagnóstico baseado no fato de que o conhecimento só encontra sentido quando nasce do encontro entre pensamento crítico, experiência humana e princípios da vida.


E vejam, eu não estou sozinha, pois curiosamente, minha intuição converge com a visão futurista de Michael Burry (famoso por antever a crise de 2008), quando afirma que o hype da IA tenderá a diminuir. Nossos argumentos são diferentes, mas apontam para a mesma direção: o deslumbramento tecnológico cederá espaço à busca por solidez.


E, quando essa virada acontecer, estaremos diante de algo raro na história: uma nova Era de Ouro da Ciência, impulsionada não pela negação da tecnologia, mas pela compreensão de que nenhum algoritmo pode substituir o rigor, a complexidade, a profundidade e a sensibilidade que fazem do conhecimento humano um ato de sabedoria.


Dra. Magda Maya | Geocientista | Dra. em Desenvolvimento e Meio Ambiente | Teórica da Sustentabilidade 4.0 | Fundadora da BEEOSFERA UNIVERSITY - Sustentabilidade 4.0 

 
 
 

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